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Shavarsh Karapetyan herói

Shavarsh Karapetyan: O herói nadador que salvou 20 vidas no lago Yerevan

Em um dia que ficaria marcado na história da Armênia e nos anais do heroísmo humano, 16 de setembro de 1976, um atleta de elite transcendeu os limites do esporte para se tornar um símbolo de coragem e autossacrifício. Shavarsh Karapetyan, um nadador armênio detentor de múltiplos recordes mundiais e campeonatos, com apenas 23 anos, protagonizou um ato de bravura que ecoaria através das décadas.
 
Naquele dia fatídico, Karapetyan havia acabado de completar um treino extenuante, uma corrida de cerca de 20 quilômetros (13 milhas) ao longo das margens do Lago Yerevan. O ar estava carregado com a quietude pós-exercício quando um som violento e aterrador rasgou o ambiente: um trólebus lotado, desgovernado, havia rompido a barreira de contenção de uma represa e mergulhado nas profundezas escuras e poluídas do lago.
 
 
O caos instalou-se instantaneamente. Gritos de pânico ecoavam enquanto o veículo afundava rapidamente. Sem hesitar um único segundo, movido por um instinto primordial de proteger e salvar, Shavarsh Karapetyan reagiu. Correu em direção à margem, livrou-se das roupas e mergulhou nas águas geladas e turvas. A visibilidade era nula; o lago, contaminado por esgoto, era um breu líquido e perigoso.
 
Guiado apenas pela intuição e sua força descomunal, o campeão nadou aproximadamente cinco metros até localizar o trólebus submerso. As janelas estavam fechadas, aprisionando os passageiros em uma armadilha mortal. Com a força de suas pernas, Karapetyan desferiu chutes contra a janela traseira até estilhaçá-la, sofrendo cortes profundos nos vidros quebrados no processo. A abertura era a única esperança para os que estavam lá dentro.
 
O que se seguiu foi uma demonstração sobre-humana de resistência e coragem. Durante cerca de 20 minutos, que para as vítimas e testemunhas devem ter parecido uma eternidade, Shavarsh mergulhou repetidamente nas águas escuras e fétidas. Em cada imersão, enfrentava a falta de oxigênio, a água contaminada e o risco iminente à própria vida. Ele puxava corpos inconscientes do interior do veículo, um por um, entregando-os a equipes de resgate improvisadas na superfície.
 
Estima-se que Karapetyan tenha retirado 37 pessoas do trólebus submerso. Graças à sua ação heroica e incansável, vinte delas sobreviveram. Além disso, acredita-se que outras nove pessoas conseguiram escapar pela abertura que ele criou na janela traseira. Ele literalmente nadou contra a morte, resgatando vidas em um cenário de pesadelo.
 
Onibus na agua
Trolébus sendo retirado do lago
 
Contudo, o heroísmo teve um preço devastador para o atleta. A exposição prolongada à água contaminada e o esforço extremo cobraram seu tributo. Karapetyan contraiu uma pneumonia dupla severa e septicemia devido à água poluída. Passou 45 dias no hospital, lutando pela própria vida. As cicatrizes não foram apenas físicas; seus pulmões sofreram danos permanentes, comprometendo sua capacidade respiratória e, consequentemente, sua carreira como nadador de elite.
 
Mas a história de Shavarsh Karapetyan ainda reservava um último capítulo de glória esportiva. Desafiando todas as probabilidades e os prognósticos médicos, ele retornou às competições no ano seguinte, em 1977. Com o corpo ainda marcado pelo resgate e os pulmões longe de sua capacidade total, ele realizou o impensável: conquistou sua última medalha de ouro e quebrou seu 11º recorde mundial na modalidade de nadadeira (finswimming). Foi um ato final de triunfo, uma despedida das piscinas no auge, antes de se aposentar definitivamente do esporte que tanto amava.
 
Shavarsh Karapetyan deixou um legado que transcende medalhas e recordes. Ele personifica o verdadeiro significado de heroísmo – a disposição de arriscar tudo, inclusive a própria vida e carreira, pelo bem de desconhecidos. Sua história é um lembrete poderoso da capacidade humana para a compaixão e a coragem em face da adversidade extrema. Ele não foi apenas um campeão nas piscinas; foi um herói que mergulhou no abismo para trazer vidas de volta à luz.
 
Imagens: Mdig, Canva
 

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